quarta-feira, 25 de junho de 2014

Capítulo Sete

- Espera aqui enquanto eu falo com a recepcionista, tá bom? – Eu assenti.

Fui enganada. Aquele “é um restaurante, mas não tão chique” foi pura mentira. O restaurante era realmente muito caro. Pareciam àqueles salões de baile do século passado, com grandes lustres com lâmpadas amarelo-opaco, o chão não era chão, era revestido por um tapete fino indiano e na parte externa do local, era uma madeira rústica e brilhante.

As mesas redondas com toalhas até o chão, taças finas, muitos talheres, dois tipos de pratos. Cadeiras revestidas com capas rendadas. O cheiro de canela e macadâmia no ar, o tipo de gente que estava ali. Tudo parecia cenográfico. Talvez fosse um restaurante para os mais ricos de Los Angeles, mas então porque estaríamos aqui? Pensei.

- Pronto. Vamos, a moça está vindo para nos mostrar nossa mesa. – Stev pegou minha mão e eu me levantei do sofá de camurça.

- Por aqui, senhores. – Uma moça baixinha, pequenina, ruivinha nos mostrou o caminho. – Quando o casal decidir o que querem, é só chamar porque estarei ali no canto. – Falou com monotonia na voz, como se falasse isso a cada casal ou pessoa que vem aqui. Sempre a mesma coisa. Ela nos deixou um cardápio e andou até o canto em que disse que estaria.

O cardápio parecia ter sido feito de coro verdadeiro. E dentro, letras douradas estavam sobre um papel bege claro.

- Esse lugar não é muito… caro? Ou chique? – Falei num tom baixo.

- É. Mas não tem problema. Tenho uma notícia. – Parecia um pouco mais sério agora. Será que vou ser pedida em casamento, meu Deus?

- Pois fale. – Sorri e me ajeitei na cadeira, muito mais confortável que as cadeiras de madeira da minha cozinha. Essas são acolchoadas.

- Fui promovido. Não sou mais só o contador, agora sou o supervisor-chefe dos contadores da empresa toda.  – Seu semblante voltou a ficar sorridente.

- Que bom, meu amor! Parabéns. – O parabenizei pela conquista, afinal, em empresas grandes demais é difícil ser um dos maiores.

- Obrigado, linda. Agora posso pagar esse restaurante, e todos os outros. E eu quis vir comemorar aqui com você, porque esse é um dos melhores restaurantes da cidade e tal. – Sorriu. Nossas mãos estavam juntas por cima da mesa, os dois com o braço estendido.

- O que vamos pedir? – Perguntei.

- Não sei. Que tal o prato do chefe?

- Por mim tudo bem. – Ele acenou para a ruivinha, que prontamente apareceu. Fez o pedido. Para beber, depois de discutirmos, decidimos champanhe, já que era uma comemoração.

Lea e Stefan ficaram em casa. Nenhum deles havia acordado, mas eu deixei um bilhete sobre o balcão avisando onde estávamos e o que iríamos fazer. Possivelmente alguém acordaria, não existe alguém com tanto sono assim para poder dormir tarde e noite sem dar uma acordada no meio dos turnos. Se bem que do jeito que Lea é dorminhoca, nunca se sabe. E Stefan está doente, isso quer dizer que está sem forças e o que melhor pode fazer é dormir.

Fiquei pensando neles dormindo, e ainda com essa música clássica que toca aqui, me deu sono. Não esperamos muito até o prato chegar, na verdade foi até rápido. O prato do chefe era simplesmente maravilhoso, um tipo de frango com molho doce francês, caramelado, um verdadeiro manjar dos deuses. E falando em manjar, foi a sobremesa. Estávamos a sua espera, do manjar, quando ouvi uma risada um pouco conhecida.

Quem seria? Alguém do escritório? Não, não, acho que não. Alguém do prédio ou que vi no elevador algum dia? Não, também não. Algum conhecido? Rebusquei pela minha mente, onde ouvi essa risada. Alguém da família, talvez? A tia Augusta? O tio Otto? Prima Benie? Ou a sobrinha da minha mãe, Julie?

- Amor, aquele não é o famosinho? – Steven me desconcentrou enquanto rebuscava a árvore genealógica da família. Não teria sido mais fácil só olhar para trás, do que tentar adivinhar quem era? Claro que sim. Que burrice a minha. Virei-me. E ali estava num majestoso traje de gala – mentira, não era de gala, apenas um blazer e calça sociais pretas. Um chapéu marrom com penugens do lado e um óculo escuro, um Ray-Ban provavelmente.

Para não variar, uma camisa com estampa de onça. Mocassins pretos também. Estava rindo histericamente, e Phil ria ao seu lado gargalhando também. Mas é claro que Bruno ri mais espalafateco, e mais alto. Na frente do Phil, uma mulher morena e muito bonita. Aparência um pouco mais velha que Bruno. E na frente do dito cujo, uma loira alta com os seios saltando do vestido decotado. Todos na mesa estavam rindo.

- É ele sim. Ele e o amigo dele, o Phil. – Falei me virando para frente novamente.

- E as mulheres? A morena parece ser alguma coisa do tal Phil, porque os dois estão se olhando nesse exato minuto de mãos dadas. E os dois tem uma aliança. Mas a loira… - parou de falar de repente – e que loira. – cochichou.

- Ei! – Dei uma tapa em sua mão.

- Ah, desculpa, desculpa. É que ela é bonita sabe, mas é muito vulgar. Aqueles peitões estão dando olá pra mim. E pro resto do restaurante. – Ele balançou a cabeça rapidamente. – Mas é claro que eu não quero saber dela, nada. Só quero você. Olha, aquela mulher está parecendo uma doida com um tomara que caia decotado assim, já você está linda. Do jeito que está. Mostrando só pra quem merece, e não pra quem ver.

- Nesse caso, tudo bem. Ele é desse tipo mesmo, pega qualquer uma. Precisava ver na casa dele, só gente desse tipo. A mãe dele devia tomar umas providências. – Falei e ele riu.

- Mãe de gente famosa não os controla mais, eles são maiores de idade e fazem tudo o que bem entendem com a porcaria do dinheiro deles. – Ele deu de ombros.

- Vou ao banheiro enquanto a sobremesa não chega, okay? – Falei me levantando.

- Claro, meu amor.
BRUNO’S POV

Embora fosse viajar essa noite, eu não poderia deixar de jantar – ou algo mais, lógico, com a Adriane. Linda e loira daquele jeito não seria certo desperdiçá-la. Então, a convidei para jantar. Phil também convidou Urbana, talvez eles se acertem depois disso. Mas o que me interessava estava bem à frente, num ótimo campo de visão, com o capô a mostra. Em certo momento, ela começou a falar algumas coisas – que de tão pecaminosas, não me convém falar aqui – que estavam me fazendo suar.

Ela riu ligeiramente venenosa. Tive que ir ao banheiro. Não sei pra quê, mas precisava jogar uma água no rosto e deixar essas coisas pra mais tarde. Não poderia correr riscos assim, não seria bom para meu papel na mídia. Pelo menos não tinha visto nenhum paparazzi intrometido. Gosto desse restaurante basicamente porque 1) a comida é ótima; 2) nunca está tão cheio para você desconfiar de cada um que te olha, ou querendo te roubar ou uma foto; 3) não é tão longe de casa; 4) os garçons não falam para a minha acompanhante que ela é o visitante número mil da minha mesa; 5) tem discrição suficiente para tudo.

O problema dos banheiros daqui, é que são afastados demais de todos, e ficam em grandes corredores. Se eu não estivesse acostumado, me perderia facilmente.
Fui ao banheiro, fiz minhas necessidades, joguei uma água no rosto, arrumei o cabelo. Hoje eu estava mesmo irresistível.

- Vai lá, Sex Dragon! – Disse para mim mesmo no espelho e pisquei. Tão sexy.

 Saí do banheiro com as mãos nos bolsos, tentando parecer um pouco mais descontraído. Adriane ainda não estava totalmente caída no meu papo, então eu tinha que parecer mais legal ainda, mais divertido e confiante. Olhei no relógio. A noite ainda seria muito produtiva. Continuei olhando o relógio, recordando algumas coisas.

Minha mãe que me deu esse relógio na páscoa desse ano, quando ela ainda era viva. Contorci meu nariz algumas vezes. Como eu seria o galã que pegaria Adriane se chegasse lá chorando pela mamãezinha? Que coisa fútil. Que raiva por eu ter achado isso fútil. Que idiota eu sou. Por que isso teve que acontecer com a minha mãe? Por que com uma avó com netos ainda pequenos, que nem viu meus filhos, meus netos, ou até mesmo minha mulher? As meninas, que estavam começando a carreira com o grupo The Lylas. Por que ela teve que me deixar tão cedo? Fez um mês na semana passada que ela se foi.

A minha mãe. A mãe das meninas, e do Eric. A nossa mãe. Por quê? Por que Deus quis nos castigar dessa forma? Tirando minha mãe? Ah, merda, eu estava quase chorando naquele corredor. Podem falar que é coisa de mulherzinha ficar chorando pela mãe, mas é claro que eu choro. Quase sempre que paro para pensar nela. A essa altura, minha noite não estava tão bem assim. Lembrar da minha mãe é sempre recordar a dor. Não que minha mãe seja a dor, mas isso dói.

Tudo isso é tão difícil. Por mais que me apoiem, ninguém sabe o que eu passo. Acham que o cara da granada, ou dos macaquinhos, ou do amor como gorilas, acha que ele aguenta tudo e está sempre sorrindo. Acham que ele é sempre forte, e quando enfraquece recebe ajuda dos amigos e tudo se resolve. É claro que a morte da minha mãe nunca irá se resolver, eu não posso ir buscá-la. Algum tempo depois dela… ir, eu pensei em ir junto. Cancelar a turnê, cancelar os shows, cancelar as batidas do meu coração. Mas é claro que eu não fiz isso. Minhas fãs, por mais que eu não estivesse vendo nem ouvindo, eu lia no Twitter o que a maioria falava. Meus amigos, minha família, todos ajudaram bastante.

Mas nada adianta. Só quem me ajudaria, é minha mãe. Eu olhei para o lado, e não havia ninguém em lugar algum. Não quero que me vejam assim. Escorado na parede, com os olhos avermelhando. Acho que hoje não vou mais sair com Adriane. Essa dor, sempre que eu faço renascê-la, acaba com o meu dia (ou noite). Então é isso, não vou mais usá-la essa noite. Amanhã tenho show, e não quero me atrasar. Minha mãe não gostaria que eu me atrasasse, só por uma oferecida loira e bonita.

Enxuguei meu olho mais uma vez. Encostei minha cabeça para trás, com os olhos fechados. A qualquer minuto alguém chega e eu dou alguma desculpa e saio, mas não quero sair agora por livre e espontânea vontade. Quero ficar sozinho.

- Bruno? – Uma voz doce. Doce. Mãe. – Bruno? – Não, não é a minha mãe. Talvez ela mais nova, quem sabe? Isso! Minha mãe mais nova, só pode ser. Eu estava sonhando? Será que dormi?

- Mãe? – Cochichei. Estava tudo escuro, eu só ouvia essa voz me chamando.

- Ei. Ei! – Meus olhos se abriram. – É a Luna. O que aconteceu com você? – Ela olhou para mim. Aqueles olhos verdes e profundos. Mas eu não conseguia enxergar direito, minha visão estava embaçada. Eu geralmente não choro, odeio embaçar minha visão.

- Nada. – Me levantei.

- Ei, pode falar. Bruno… Bruno, você tá chorando? – Ela segurou meu ombro com uma mão e olhou nos meus olhos.

- Chorando? Eu? Claro que não. Que idiotice. – Limpei os olhos rapidamente e tirei meu ombro de sua 
mão, com certa rispidez.

- Não? Okay. Mas acho que tem um pouco de olhos nas suas lágrimas. – Falou irônica. Deu uma grande vontade de xingá-la.

- Tá bom então, sabe tudo! Eu estava chorando, e daí? Sua mãe está enterrada a pés do chão? Ela está morta? Ela morreu de uma hora para a outra? Faz menos de dois meses que sua mãe não fala com você? Acho que não. – Saí andando, ouvi um barulho de salto-alto atrás de mim. Merda de corredor comprido.

- Sua mãe… morreu? Desculpe, eu não sabia. Eu achei que ela ainda era viva. E minha mãe não está enterrada, graças a Deus. – Respondeu ainda segurando meu braço.

- E graças ao bom Deus, a minha está! Ironia, não? – Virei à cara.

- Eu só queria ajudar, tá bom.

- Sai daqui. – Sua anta baleada! Por que você falou isso pra ela? – Por favor. – Consegui acrescentar no fim.

- Olha, cara, se você não quer conversar ou nada, é só falar. Não precisa ser grosso. Tá bom, já tô indo embora. Pode chorar sozinho aí, não quis incomodar. – Ela estava atrás de mim. Passou pelo meu lado, me olhou com aqueles olhos verdes falando “você foi um grosso”, e andou o resto do corredor. Só vi sua sombra afastando no fim do corredor.

Voltei ao banheiro e lavei o rosto novamente, meus olhos estavam pequenos (coisa rara) e vermelhos. Logo Phil apareceria, o que não é nada bom. Me recompus e voltei a mesa. Foi aí que observei que Luna estava logo a frente, com um cara. Um cara grande e alto até sentado, com cabelos castanhos e pele branca. Feio pra danar.

- Onde você tava, cara? Achei que você tinha se perdido. – Phil cochichou pra mim, enquanto Urbana falava algo com Adriane.

- Já falei que no banheiro. Preciso dar um fim nessa mulher, como faço isso? – Apontei com a cabeça para Adriane.

- Ai, mano, eu ainda te mato. – bufou – Urbana, por que você não vai com o Bruno para casa enquanto eu levo a Adriane? Já estamos indo, depois te encontro lá. – falou em voz alta – Depois você e o Bruno se encontram, Adriane, é que é arriscado ele sair daqui com você, e todo mundo já conhece a Urbana.
Ela concordou. Se não fosse Phil, não sei o que seria dos meus encontros indesejáveis. Paguei a conta e saí com Urbana.
LUANA’S POV

Achei Bruno no corredor, chorando ainda por cima. Ele disse que é por sua mãe, que morreu. Eu nem sabia disso. Steven já havia terminado sua sobremesa, e ficou um pouco emburrado por eu não estar ali para comer com ele. Peguei minha sobremesa e fui me sentando. Quando sentei, ele pediu perdão por ter ficado emburrado e fez uma declaração para mim, sempre me chamando de "meu anjo" e "meu amor" ou "princesa", é claro, e me entregou uma caixinha preta e quadrada. Eu imaginei que fosse alguma jóia, e estava certa.

Uma linda correntinha de ouro, fina e brilhante. Reluzente, na verdade. E um pingente de esmeralda, do tamanho de uma azeitona redonda, mais verde que as árvores na primavera. Ele disse que era para combinar com meus olhos, e que quando fossemos a alguma festa formal, ele queria ver o colar em meu pescoço. Me deu um selinho breve e foi pagar a conta. Fiquei ali olhando para aquela pedra, que deveria ter sido muito cara.

Depois, fomos para casa. Os dois estavam com sono, e eu mais que ele. Lea estava acordada e nos contou que Stefan não acordara e que ela não comeu nada, só tomou um refrigerante da geladeira. Quando tentei descobrir o porquê deles estarem abraçadinhos, ela desconversou e foi para casa.

Me troquei, tirei a maquiagem, e deitei. Steven fez a mesma coisa, estávamos cansados. Mas mesmo assim, antes de dormir, pensei no cabeludo sem mãe. Ele parecia realmente sofrer com aquilo de ficar sem mãe, é claro, estava chorando de verdade. Dormi com aqueles olhos vermelhos na mente.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Capítulo Seis

- Que dia ela chega? – Perguntei me sentando.

- Quem vai chegar? – Steven apareceu na cozinha, contaminando-a com seu perfume masculino e caro. 

Sim, ele só tinha coisas caras e de marca. Ser contador de uma empresa não é totalmente mau.

- Prima da Lea, amiga antiga minha. – Ele murmurou algo como “ah, sim”.

- Chega na semana que vem. E ah, bom dia, Stev. – Lea sorriu para ele.

- Bom dia, Lea. – Ele sorriu de volta.

- Vou tomar banho. Stev, faça alguma coisa para comermos?

- Claro, meu anjo. – Ele andou até a geladeira.

- Ai, meu anjo. – Lea o imitou com uma voz fina e fanha nos fazendo rir muito. Fui para meu quarto, e tudo o que ouvia eram gargalhadas vindas da cozinha.

Tomei meu banho tranquilamente. Ainda não eram nem nove horas, e eu só entraria às duas. Às sextas, eu entro mais tarde. É por isso que geralmente aceito compromissos na quinta à noite: porque eu posso dormir até o meio-dia se quiser. Tentei tirar toda a preguiça do meu corpo – coisa realmente difícil. Mas não queria tirar o cheiro da pele de Stev, aquele cheiro amadeirado e gostoso que me recordava a noite passada. Mas foi inevitável. É claro que depois eu iria o encher de abraços e carinhos, só para ficar com aquele cheiro de novo.

Terminei o banho e caminhei até o closet, após sair do banheiro. Coloquei um short e um top. Cheguei à cozinha e Steven fazia torradas na torradeira, a mesa estava toda posta e arrumada, parecia um banquete. É isso o que meu namorado faz, pensei feliz. Já minha amiga, que não faz nada, estava tomando café. Aquele cheiro invadiu meu nariz, e eu inspirei.

- Que cheiro bom. – Sorri sem mostrar os dentes. Steven abriu a boca, mas antes de falar, foi cortado por Lea.

- Ah, não. Nem venha me falar que é porque ela recém-chegou e perfumou o ambiente com seu creme ou sei lá o que ela passa, já segurei muita vela por hoje. – Eu ri e dei um tapa em sua cabeça. – Ai. – Reclamou e eu ri novamente.

- Oi… Ai… Oi. – Um Stefan branco e pálido, parecendo sedentário apareceu na porta da cozinha.

- Stefan, eu já tinha te avisado para não se levantar. – Steven falou um pouco severamente, Stefan se sentou.

- Está com fome? Você precisa se alimentar. – Falei e Lea se levantou e andou até ele.

- Não, não quero comer. Quero só deitar de novo, não sei nem porque fui me levantar. – Ele falou com a mão na cabeça, possivelmente com dor.

- Gente, posso cuidar dele? Preciso de uma ocupação. – Lea sorriu para ele, que deu um sorriso mísero e sem mostrar os dentes.

- Contanto que ele ainda esteja vivo no final do dia, tudo bem. – Falei.

- Hoje vou sair à tarde, e alguém ia ter que ficar mesmo. – Stev deu de ombros.

- Okay, então. Vou cuidar do Stef. – Ele assentiu parecendo… Mais feliz? É, pois é. Ele estava como um drogado, totalmente sem noção de tempo e espaço.

Ela o levou para dentro e só voltou para fazer uma sopa um pouco mais tarde. Fui trabalhar e saí de casa às uma e meia. Steven saiu e não avisou onde ia, mas passou a tarde fora. Pelo o que Lea me informava, Stefan estava se recuperando bem e comeu um pouco de miojo que ela fez(acho que isso é a coisa mais perto que temos de Lea na cozinha, além de ferver água).

Tive a reunião com o Little Mix, aquele grupo que eu dirigi o clipe. Elas adoraram! Fiquei muito contente, pois cliente feliz é cliente feliz. Além de que, eu recebo uma porcentagem dependendo da repercussão do clipe, e aquele lá parece que vai ser ótimo para a carreira delas e, claro, a minha. Mark também estava muito feliz, iria fazer o clipe da Rihanna. Nunca nem imaginei em chegar perto da Rihanna, porque apesar de tudo, sou uma cidadã normal que não tem grandes privilégios só por conhecer alguns artistas, e no geral, como são novatos, eles nem se lembram da minha existência caso a fama venha a calhar.

Mas começar pelo Bruno Mars, já foi um bom começo. É claro que aquela galinhagem toda dele tem que ser algo mais pessoal para ele fazer lá fora, não no local de trabalho, mas isso não me envolve e a única coisa que quero dele é o clipe de Gorilla. Que por sinal, também vai ser maravilhoso. Ele falou na reunião de ontem que as fãs estão esperando por esse clipe, e depois que foi divulgado que essa música teria mesmo um clipe, elas enlouqueceram. Ele deve ter bastantes fãs, mas vai saber, não acho que sejam tantas como o Justin Bieber ou alguém do gênero. Mas não sei desse universo fanático, então isso não me importa.

- Você viu, vou ter uma reunião com a Rihanna! – Mark falou me tirando dos devaneios sobre a fama alheia.

- Vi. Ah, se der, pega um autógrafo pra mim? Pego um do Bruno pra você! – Falei e ele riu.

- Se der, é claro que eu pego, gatita. – ele me chamava de “gatita”, ou “gata”, ou ainda “gatinha” e eu o mesmo, somos amigos sem restrições. – E pode deixar que daquele lá eu não quero, credo, ele é tão idiota. – Fez uma careta.

- Jura que achou isso? – Virei a cabeça.

- Completamente. – Ele revirou os olhos e continuou digitando.

Lembrei-me da minha mãe e do meu pai, dos meus pais e do tempo que fazia que eu não ligava para eles. Nenhum deles. Peguei meu celular e liguei para minha mãe, pois agora meu pai deveria estar trabalhando ainda.

- Alô? – Ela falou ofegante.

- Mãe?

- Ah… Oi… bebê… - Ela não conseguia falar sem ofegar.

- Mãe, o que você tá fazendo? – Ela não deixava chamá-la de senhora, diz que é pra velhinhas.

- Eu? Ai… tô numa… tirolesa.

- Mãe!?- Falei num tom repreensivo.

- Filha!? – Ela me imitou. – Ui, cheguei. – Ouvi barulho de alguma coisa se desprendendo.

- Mãe, o que você estava fazendo numa tirolesa? Em plena sexta-feira? E onde achou uma tirolesa em Orlando? A Disney tá disponibilizando? – Eu estava incrédula que minha mãe estava numa tirolesa enquanto falava comigo, e ainda mais por ela falar ao telefone numa tirolesa.

- Calma, menina, parece minha mãe. Olha, eu vim dar uma volta no novo parque que tem aqui em Orlando e aproveitei a tirolesa, ué. – Essa é minha mãe. Eu ri.

- Okay, okay, mãe. Está tudo bem aí?

- Claro, meu amor. E aí? Como vão as coisas? Soube que seu cunhado com cara de Tom Cruise está na sua casa, e doente. – Ela diz que Stefan tem cara do Tom Cruise mais jovem, nunca achei, mas ela tem certeza.

- É, ele está doente, e na minha casa. Stev também está aqui, veio passar o fim de semana.

- Use camisinha porque não quero ser vovó de netos com cara de Tom Cruise, okay? – Eu gargalhei. Ela também acha Stev com cara de Tom Cruise, só que “um pouco mais velho que o Tom Cruise materializado no Stefan”.

- Tá bom, senhora Sanders.

- Senhorita. Porque, convenhamos, você é mais senhora que eu enfurnada no escritório enquanto curto uma tirolesa com um ventinho nas extremidades. – Ela riu de si mesma, me fazendo rir.

- E a pequena, como vai? – Eu sempre chamei minha irmã de pequena por ser baixinha. E ela sempre me respondeu com um “olha quem fala, Luana”.

- Está bem. Terminou com aquele namorado, graças a Deus. Ele era uma péssima influência pra ela, você sabe, mas não sei o que deu nela e num dia chegou e me avisou que havia largado dele. Ele era bonitinho, uma pena ser daquela laia. Se fosse mais velho, sabe… - Esse é mais um ponto da minha mãe, os homens. Ela geralmente tem um novo namorado a cada de cinco a seis meses. Mas foi bom saber que Louise largou daquele namorado dela – Louise é o nome da minha irmã. – Pelo menos ela não me apareceu grávida aqui, acho que ainda estou controlando essa parte dela.  

Isso é a única coisa que a minha mãe não aceita de jeito nenhum: gravidez. Depois que eu comecei a morar sozinha, tenho meu próprio emprego, carro e independência financeira, ela não pega no meu pé. Mas no da minha irmã, deve pegar do mesmo jeito que fez comigo ou pior. “Sem bebês, sem invasão de privacidade.”

- Ah claro, que bom. Pede pra ela me ligar qualquer dia desses…

- E o seu irmão? Quando viu ele?

- Jim? Ih, ele literalmente sumiu. Faz quase um mês que não nos vemos, mas Stev disse que viu ele há alguns dias quando foi ao mercado na semana passada. – Falei. Realmente fazia tempo que não via o Jimmy, ainda bem. Ele é praticamente a ovelha negra da família, tem três namoradas, bebe demais, fuma cigarros e sabe-se-mais-lá-o-que, vive por aí com sua caminhonete empacotada de auto-falantes que fazem qualquer tímpano doer pelas ruas. E não se dá bem com ninguém da família.

- Filha, a mamãe tem que ir. Vou dirigir agora, buscar a sua irmã na casa de uma amiga e depois fazer mais um monte de coisas. Tchau, meu amor.

- Tchau, mãe. Se cuida. – Me despedi.

- Quem tem que mandar se cuidar é a mãe, e não a filha. Mas, devido aos fatores que eu tenho mais adrenalina todos os dias… Pode deixar que eu vou me cuidar. – Eu ri. – Beijos, Luna.

- Beijo.

Desligamos.

Minha mãe sempre foi uma piada, sempre divertida, sempre amiga. Ela quem sempre soube de tudo, do meu primeiro beijo, minha primeira vez, meu primeiro namorado, tudo. Sempre fomos muito amigas. E ela, sempre divertida, colorindo a vida com suas loucuras. Ela é assim com todo mundo, com todos os filhos, mas a única que ela não se dá tão bem é a Louise. Não sei o porquê, as duas não são tão uma com a outra. Só apenas fazem o necessário.

Olhei no relógio e eram quase cinco horas. Hora de ir. Peguei minha bolsa e o celular, recoloquei meu casaco e lenço, dei tchau a Mark, dei tchau a Lise (que por sinal, e porque eu esqueci de dizer, está totalmente gamada no Bruno, me pergunta todos os dias quando será a próxima reunião), e saí.

Abaixei a cabeça e olhei meu celular, havia uma mensagem da Lea. Ouvi buzinas estridentes e olhei para cima novamente. Steven estava ali no seu Pajero cor verde-musgo metalizado (Lea costuma chamar de cor-de-merda brilhante, mas enfim). Caminhei a passos largos até o carro e entrei. Ele trancou as portas e arrancou.

- Veio me buscar? Que amor. – Falei enquanto dava um beijo em sua bochecha.

- É, vim te buscar. Comprei uma coisa pra você, e vamos sair pra jantar hoje. – Disse sorrindo todo misterioso.

- Uma coisa? – Eu já estava curiosa.

- É, ué.

- Não vai me contar o quê?

- Hummmm… Não. – Eu dei um tapa em seu braço. – Ei! Ai! – Deu risada.

- Você sabe que eu odeio surpresas, Stev. – Falei e cruzei os braços. Ele alternava os olhares do trânsito para mim.

- Ah, meu amor. É por uma boa razão. Você vai adorar a surpresa, meu anjo. – Disse sorrindo e olhou brevemente para mim com aqueles olhos caramelados.

- Você me dá tantos apelidos, me chama de anjo e amor, enquanto eu só chamo pelo seu nome. Parece tão não-amoroso da minha parte… - Falei e ele riu.

- Imagina. Não me importo, gosto quando fala ‘Stev’ com esses dentes branquinhos e lindos. Gosto ainda mais quando sorri pra mim e descruza os braços. – Eu sorri. – Isso, minha linda, fique feliz. Hoje você vai ficar feliz, com o presente. – Ele estava tão carinhoso… Mais que o normal, ainda. Nossa.

- Posso aumentar? – Perguntei com a mão no rádio.

- Claro. – Sorriu.

- E agora, fiquemos com Bruno Mars interpretando a linda canção It Will Rain, já voltamos. – O homem de voz grossa e radialista disse e uma música lenta, muito lenta, começou.

- Não é desse cara que você tá fazendo clipe? O famosinho? – Stev perguntou enquanto virávamos a próxima curva.

- É, é sim. Mas essa música dele é antiga, acho que 2010 ou 2011, por aí. Vou fazer o clipe de uma música mais atual, do novo CD. É uma das músicas mais pecaminosas que eu conheço, sabe. – Ele riu, eu também.

- Jura? O carinha da granada fazendo músicas desse tipo? – Eu ri com ele falando “o carinha da granada”, além de que sua cara estava muito engraçada.

- Pois é. – Depois ficamos em silêncio o resto do caminho. A música do Bruno estava no fim, mas mesmo assim era linda. Depois tocou músicas de outros cantores e cantoras pop. Encostei para trás no banco, até me cansar. É meia-hora do trabalho pra casa, e agora que posso descansar um pouco, vamos lá…

- Dorminhoca, chegamos. – Acordei. Cochilei alguns minutos, eu acho. Stev olhava para mim e me ajudou a me recompor depois. Quando saí, meu cabelo voou para o meu rosto.

Fui para dentro enquanto Steven estacionava o carro. O elevador estava totalmente vazio. Era triste, mas a única coisa que eu queria fazer nessa sexta-feira é dormir e dormir. Debaixo das cobertas, talvez assistindo a um filme. Mas definitivamente não queria sair.

Entrei e a casa estava silenciosa. Totalmente. Caminhei pelos cômodos e não ouvi nada, mas a porta do quarto de hóspedes, que agora é de Stefan, estava fechada. Bati nela com os nós dos dedos.

- Estão todos de roupa aí? – Falei alto, mas ninguém respondeu.

Eu pensei: Ai meu Deus.

Mas quando eu entrei, a surpresa foi maior. Stefan estava dormindo abraçado à Lea, como se ela fosse sua boneca de pano e ele uma criança que está aprendendo a dormir na própria cama sem os pais. Ela também dormia tranquilamente, parecendo aconchegada ali. Meu Deus amado, como isso foi acontecer?, pensei.

Deixei-os dormindo ali. Fui para meu quarto, para meu banheiro mais precisamente. Se meu namorado queria sair, e ele não estava frequentemente aqui, então é melhor que eu me mexa pra criar coragem e sair com ele. Tomei meu banho, afinal. Eu ainda tinha vontade de dormir quando saí, mas tive que me segurar para não saltar na cama, e fui me trocar.

Coloquei um vestido de noite, não tão chique, não tão simples. Sequei o cabelo e deixei-o solto mesmo, o tempo chuvoso o deixava num ondulado quase cacheado. Steven passou por mim, me deu um beijo, e foi para o banheiro. Enquanto ele se banhava, procurei algum sapato adequado.

- Vamos a um restaurante chique ou algum bar extrovertido? – Gritei próxima a porta do banheiro. Ele abriu a porta de uma vez e eu dei um pulo para trás.

- É um restaurante, mas não tão chique… Está perfeita. – Falou me olhando.

- Mais perfeito que você? Não. – Ele estava apenas com uma toalha amarrada na cintura, a pele úmida e brilhante, e cheirosa. O cabelo bagunçado, caindo aos poucos na testa. Os olhos sorridentes. Com o braço musculoso escorrendo água.

- Como minha namorada é safada me achando bonito pelado, nossa. O que será que aconteceu com ela? – Falou consigo mesmo, com a mão no queixo olhando para cima.

- Você aparece de toalha na minha frente, e ainda não sabe o porquê? Nossa, Steven Carson, que isso.

- Se eu te beijasse, o que aconteceria depois? – levantei as mãos e os ombros, indicando que não sabia – O cara que conserta a cama trabalha de noite? – Eu gargalhei.

- Santo Deus, o que será que aconteceu com você? Tão safado. – Ele sorriu.

- E cadeiras de rodas? Eles cedem à noite? – Perguntou parecendo sério enquanto pegava sua roupa na sua metade do guarda-roupa.

- E pra que uma cadeira de rodas? – Perguntei olhando para ele.

- Sabe, caso você não consiga andar. Mas se bem que, talvez não consiga sentar. – Os dois rimos.

- Steven, amor, você tá bêbado? Fumou alguma coisa pra estar tão assim? – Ele riu e me deu um selinho.

- Não, não fumei. Acho que você me drogou com você mesma. – Me puxou pela cintura. Nos beijamos. 
Mas ele precisava se trocar, eu não queria que tudo o que ele disse anteriormente acontecesse, mesmo. 

Então nos separamos, afinal, vamos sair para jantar!

  

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Capítulo Cinco

- OPA, CHEGUEI! – Bruno entrou falando, um pouco alto, é verdade. Estava com uma jaqueta azul e branca, aquelas de time de futebol do colegial, calças camufladas e um óculos de sol.

- E aí? – Phil perguntou, parecia que estava se referindo a alguma coisa que os dois sabiam o que era. Só os dois.

- Tudo mais que perfeito. – Sorriu.

- Mars, tem batom na sua boca. No canto. – Mark disse e eu observei o canto da boca dele, e era verdade. Bruno limpou com a mão. – Quem foi? A Lise?

- Se for aquela secretária ali na frente, foi a Lise. – Ele sorriu de um jeito safado.

- Isso quer dizer que você se atrasou porque estava pegando a secretária? – Perguntei, séria. As pessoas tentam ser responsáveis, e ao invés de ele pelo menos marcar algo para de noite, faz o próprio serviço numa produtora em que tinha uma reunião. Todo o crédito que ele tinha por ser simpático, cantar bem e tudo caiu pela metade.

- Basicamente. – Deu um sorriso de canto. Mark balançou a cabeça para os lados.

- Bruno, se arruma aí para podermos começar a reunião. – Phil falou e Bruno assentiu. Parecia que Phil é o irmão mais velho e sensato de Bruno. Bruno passou a mão no cabelo que não via uma escova a algumas semanas e limpou a boca de novo. Fechou a cara, ficando com uma expressão mais séria. Agora sim, pensei.

- Posso falar uma coisa? – Bruno levantou a mão, como se estivéssemos na escola e ele, o aluno, pedisse para falar para a professora, no caso eu. Assenti positivamente. – Bom, eu já sei a atriz que vai atuar no clipe.

- Achou uma mexicana que queira? – Perguntei.

- Não, ela não é mexicana. Nem sei a descendência dela, só sei que ela atuou no filme Quem Quer Ser Um Milionário e… Bem, ela é perfeita. – Eu imaginei qual era o interesse dele nessa atriz, para ele rebuscar tão lá no fundo. – Se chama Freida Pinto. – Quando ele terminou de falar, pesquisei o nome no Google. Uma atriz, aqui que mora aqui em Los Angeles, indiana e bonita. Realmente bonita. Mark se aproximou de mim e viu a moça no computador, levantou as sobrancelhas e assentiu sorrindo.

- Boa, muito boa. – Respondi analisando. – Isso é uma coisa que já decidiu? – Ele assentiu. – Okay, vou entrar em contato com ela ou o empresário.

- Vai convencer a menina a fazer pole dance, strip-tease, ficar num carro simulando certas coisas… Tudo? – Phil perguntou para Bruno, eu acho.

- Tenho certeza que conseguimos. Luna tem uma conversa bem convincente. – Sorriu para mim.

BRUNO’S POV

Dormi o dia todo e acordei quando faltava quarenta minutos para a reunião. Passei na casa do Phil e fomos encontrar a bela donzela. É como os meninos chamam a Luana agora, acho que eles gostaram dela. Cheguei na produtora e aquela moça linda que foi levar o café para Luana na terça estava ali, sorri pra ela, ela sorriu pra mim. Achei isso um sinal. Então mandei Phil para a sala de reuniões e avisei que já iria.

Fui imperceptivelmente para o corredor, e alguns segundos depois ela apareceu. Não aconteceu nada demais, mas ontem eu não fiquei com ninguém, então nos beijamos. Borrei seu batom, beijei-a até cansar, depois disse que precisava ir para a reunião e saí. Essa é a melhor parte: sair. Luana não pareceu satisfeita pelo meu atraso, mas é claro que eu tinha um bom motivo.

Pareceu que eu estava terrivelmente errado, ela me olhou daquele jeito que minha mãe olhava quando eu fazia algo errado na infância, aquele que faz você se arrepender do que fez. Mas eu não me arrependi, só me incomodei um pouco. Quando ela me olhou com uma cara de “isso o que você fez não é nada legal, você só sabe fazer merda” eu me senti meio inferior. Mas é claro que eu não sou inferior a ela, estamos no mesmo nível. Só que eu não tenho olhos verdes.

- Sabe, eu fui naquela terça-feira em que fizemos a primeira reunião, eu fui andar por aí de noite. Nuns dois clubes de strip. – Contei a eles sobre a terça em que fui fazer umas pesquisas. Luana me deu um olhar de aprovação, é incrível como ela conversa com o olhar, se expressa por ele. Isso dá um pouco de medo.

- E nem me convida? – Phil perguntou com a mão no peito, fazendo todos rirem.

- Ótimo, já está pensando no cenário. Decidiu algo? – Luana me perguntou olhando para o computador.

- Não, ainda não. Mas, deu pra ver bastante coisa. Como as pessoas que vão lá, são caras estranhos e geralmente mostram canivetes ou armas pra fora dos bolsos. Têm cara de bandidos, mas parecem boa gente. – Se têm cara de bandido, como podem parecer boa gente? Frase idiota a minha. – As mulheres são lindas e com corpos maravilhosos. É um mundo que, se eu fosse pobre, era lá que eu estaria. Meio místico, com um ar de mistério – Se eu fosse pobre. Engraçada frase. Nunca pensei se eu fosse pobre, mas aquele povo sim é feliz.

- Filosofando sobre clubes de strip, o outro lado de Bruno Mars. – Um cara que veio só pra observar, mais faz-nada que o Ryan, acho que Mark, falou baixo como se não fosse pra ninguém ouvir, mas ouvimos. 

Luana e Phil riram, eu apenas dei um sorriso amarelo.

Luana e seus olhares novamente. Ela me olhou, como se tentasse descobrir como eram esses lugares pelos meus olhos. Tentando ver algo diferente. Ela provavelmente nunca foi num lugar desses, não faz muito a cara dela.

- Você não está em turnê? – Luana perguntou depois de um tempo de digitação, ainda olhando para a jeringonça dela.

- Estou, começou mês passado. Mas agora tiramos uma mini-folga, só pra produzir o clipe, porque o próximo show será daqui dois dias só. Por isso, temos que produzir o clipe mais rápido. – Respondi, Phil me olhou e não disse nada. Deve ter algum desenho obsceno na minha cara pra todo mundo ficar me olhando hoje, porque olha.

- Ah, sim. – Ela respondeu. Mark resmungou alguma coisa sobre café e saiu da sala. – Sabe, você pode me mandar o endereço dessas boates de strip? Eu queria ver como são, eu vou fazer o cenário também então eu preciso saber como são.

- Eu também vou. – Phil ergueu a mão e ela sorriu para ele.

- Sem problemas. Por que não vamos todos? Cameron volta na segunda, na terça à noite, podemos ir todos. – Sugeri, no final de semana teria shows, mas na terça-feira não haveria problemas.

- Hum, okay. Olha, o que já temos certo é isso aqui. – Virou o computador para mim, mostrou fotos uma escrita "Bruno Mars", depois “presenta” e outra "Gorilla" que é o que já tínhamos feito. Mas estavam com efeito sonoro de gorilas, ou macacos, mas acho que gorilas. Uma macacada. Depois apareceu na tela um desenho, que aparentemente sou eu, olhando para a câmera. Num palco. – É só.

- Olha, eu tô pensando nesse clipe faz muito tempo, até porque essa é a melhor música do meu CD.  Já sei como vai acontecer, já tenho uma ideia certa de tudo. Seria bem mais fácil se apenas pensássemos nisso agora, entendeu? – Ela piscou várias vezes.

- Então diga, Bruno Mars, quais são as suas ideias. – Disse calmamente. Eu expliquei tudo a ela, desde o começo com as mulheres conversando sobre quem levaria o moço (no caso eu) e que a outra stripper me queria. O dono chegaria e chamaria a outra, a que elas não queriam que fosse. Ela iria lá e dançaria no pole, depois com os efeitos e tudo. E claro, a parte do carro. 

- Uau. – Colocou as mãos para cima depois de eu terminar, mas falou num tom não totalmente admirado, estava mais surpresa por eu ter pensado nisso, eu acho. – Okay, Bruno. Vamos fazer isso.  – Terminou, afinal.

Eu sorri alegre. É claro que é uma ótima ideia, uma maravilhosa ideia. Ela gostou, Phil gostou, eu gostei. Só falta saber o que Cameron irá achar, mas provavelmente também irá adorar. Phil sugeriu que fôssemos beber água, pois ele estava com sede. Saímos os três e fomos beber água, o único problema é que eu me esqueci da moça de mais cedo, e ela não. Saí e a recepcionista já veio atrás de mim, olhei com os olhos esbugalhados para Phil mas ele não fez nada. A moça começou a sussurrar sobre quando nos veríamos de novo.

Fui salvo pela reunião que estava começando de novo, Phil me chamou e literalmente me arrastou para a sala. Suspirei quando cheguei lá dentro.

- Cara, o que aquela mulher tem? – Phil perguntou, estávamos sozinhos ainda.

- Acho que ela não sabe o que é dar uns amassos. Se ela fizer isso cada vez que me ver, não posso mais voltar aqui. Estou fe...

- O que você fez com a Lise? Ela veio pra cima de mim perguntando sobre você – Luana entrou dizendo, segurou a porta e Mark passou, e depois fechou-a.

- Eu não fiz nada. Não se pode mais dar uns amassos em alguém e ela já pensa que vocês vão ficar grudados para sempre. Meu Deus. – Falei enquanto me sentava. Phil balançou a cabeça.

- Vamos continuar logo? Já chega de recepcionistas obcecadas. – Luana falou seca.

- Então vamos. – Falei.
LUANA'S POV


- Cheguei! – Avisei quando abri a porta. Minha voz fez eco.

- Ei, ele acabou de dormir. Não grite. – Stev veio e me deu um selinho. – Como foi a reunião? – Se sentou no sofá, e eu me sentei ao seu lado, tirando os sapatos.

- Fora pelo Mars ter dado uns pegas na Lise, tudo correu bem.

- Na Lise? A recepcionista? – Ele falou meio rindo.

- Acredite se quiser, ele não perde uma nem no local de trabalho. – Ele riu. – Mas e o Stefan, como vai? – Perguntei.

- Ah, ele vai ficar bem. Teve uma virose, nada de tão grave assim. Mas tem que ficar de repouso. E comer coisas leves. E aquela baboseira toda. – Assenti e continuei meu caminho até o quarto. Apontei para ele que ia tomar banho, e ele se jogou no sofá.

Joguei a bolsa em algum canto e fui para o banheiro. Tomei um banho ligeiramente rápido, e quando saí, passei óleo no corpo. Em pouco tempo, Steven apareceu na porta.

- Que cheiro bom, princesa. – Falou entrando no quarto.

- Obrigada. – Sorri e fui ao seu encontro. Ele segurou em minhas costas e me levantou no ar para um beijo rodado, adoro quando ele faz isso. Me sinto aquelas adolescentes de filmes, em que os namorados jogadores de futebol americano pegam as mocinhas no colo e a giram enquanto beijam-nas.

Steven é como meu ar, o que preciso todos os dias. Somos ótimos juntos, em todos os aspectos. Ele também é ótimo, digamos, em todos os aspectos. Nos combinamos, ele é sempre um cavalheiro, e eu me faço de mocinha perto dele. Não sei, me sinto um pouco mais frágil sabendo que alguém irá cuidar de mim. Eu me sentia bem. Me sentia maravilhosa, na verdade. Sentir-se desejada, amada, tudo isso, é isso.

Steven me preenchia, um vazio que havia dentro de mim. Não há um porque, mas sempre achei que as pessoas precisam ser preenchidas, e aqui está ele. Ele sempre me preencheu, e de novo, e de novo, e nessa noite não foi diferente. Sentir-se em seus braços era levitar colada ao chão, era subir ao paraíso.

E eu era dele. E ele era meu. E os dois sabíamos disso, a noite toda…

- Amor. Luna, ei, acorda. Amooor. – Fui balançada de um lado para o outro. Abri os olhos e ele me olhava profundamente, sorrindo. Aqueles olhos castanho-claros, lindos, como madeira branca importada.

- Bom dia. – Estiquei os braços para cima e fiz uma careta, me espreguiçando. Olhei para o meu corpo e estava apenas com as roupas íntimas, um conjunto de renda cor creme. Ele estava com uma samba-canção cinza mostrando sua barriga definida.

- Está tão linda. Assim. Sem maquiagem, sem aquelas coisas todas falsas e coloridas que as mulheres passam no rosto. Você é tão linda ao amanhecer. – Piscou. Ele sempre é assim, sempre falando coisas lindas.

- Ah, Stev… - Me deu um selinho. – Só você pra falar isso de uma mulher nesse estado, porque eu devo estar descabelada. – Ele riu, me fazendo rir.

- Temos que levantar. Ver o Stefan, comer alguma coisa… Na sexta-feira você entra mais tarde, né? – Perguntou.

- É. Vamos. Vai tomar banho enquanto eu arrumo a cama e o resto da bagunça do quarto, depois eu vou. – Ele me deu mais um selinho e se levantou e caminhou até o banheiro. Fechou a porta e enquanto eu arrumava a cama, poucos segundos depois, ouvi o chuveiro derramando água.

Arrumei tudo. A cama, o tapete, as roupas espalhadas, e todo o resto que estava bagunçado. Coloquei um vestido leve de ficar em casa. Depois, fui para a cozinha. Dei um pulo quando cheguei lá.

- Faz mais de anos que eu quase sempre tô aqui na sua cozinha e você ainda se assusta… - Lea riu.

- Eu sei. Mas não tem como, eu sempre acho que é alguém estranho enquanto é só a folgada da minha amiga.

- Olha, não me chame de folgada que eu me ofendo. – Fez biquinho.

- Se eu te ofender você vai embora? – Perguntei e ela riu.

- Não. – Rimos juntas. – E aí, como foi a noite, hein? – Ela levantou as sobrancelhas duas vezes seguidas rapidamente e deu um sorriso malicioso.

- Cuida da tua vida, okay? Já ta querendo saber demais. – Falei em tom tentando parecer bravo. Ela riu.

- Tá bom, mas então não conto uma novidade que eu tenho. – Mostrou a língua e abriu uma lata de coca.

- Coca-Cola logo cedo? Tsc Tsc Tsc. Mas vai logo, conta a novidade. – Ela balançou a cabeça.

- Na-na-ni-na-não. – Eu ri.

- Vai logoooooo! – Fiz birra, ela riu e assentiu.

- Tá, tá, eu conto. Uma amiga nossa vai vir morar comigo. – Falou sorrindo e bateu palmas saltitante.

- Uma amiga nossa? – Perguntei. – Qual?

- Ela é minha prima. Lembra daquela garota que estava comigo quando nos conhecemos? E vocês ficaram amigas até, só que aí ela foi morar no Brasil e perdemos o contato? – Meditei um pouco. Quem será?

- Espera. Hmmm… - pensei um pouco - Quem será? Hmm… - pensei de novo e puxei uma golfada de ar fazendo um barulho estranho no peito – A Cris! – Falei com os olhos arregalados.

- Ela mesma! – Sorriu. – Vamos ter mais uma companheira! – Ela estava evidentemente feliz. Sorri. Seria bom ter mais alguém, quanto mais melhor.


  • Carolis is baaack, então comentem para ela ou eu paro de postar, ok? Espero que gostem. Até logo <33

quinta-feira, 27 de março de 2014

Capítulo Quatro

- Vai, vai, vai, vai, vai, vai. Um... Dois... Três. – Eles se preparavam para cantar, agora Bruno estava presente e Cameron também. Mulheres do tipo da Judith, que veio pegar Bruno aquela hora, já tinham ido embora. Sobrou algumas mais decentes, amigas, e alguns caras. Haviam casais em volta da piscina e nos sofás, então era melhor ficar sentada na cadeira, inclusa na roda. Eles me perguntaram qual é a música que eu mais gosto do Bruno, e eu disse que eu estava um tanto viciada em Treasure, e eles se preparavam para cantar. Mas devido a bebida, pela quarta vez eles chegaram no "três" e ao invés de cantar, gargalharam.

- Não, não, agora é sério. Vamos agradar nossa bela donzela. – Ih, virei donzela –, e vamos cantar em coro, como nos velhos tempos. – Um deles falou, o maior deles. Parecia um ogro, não era bonito, mas era grande.

- Cala a boca, Kam. É você quem tá desafinando. – Um baixinho falou. Coitado, já perdeu um membro, pensei após analisar a diferença enorme de tamanhos. O tal Kam só olhou para o baixinho com uma cara feia – coisa que não era dificuldade de se fazer – e virou a cara. Phil estava rindo de algo, totalmente bêbado.

- E lá vamos nós. – Alguém disse no meio.

- Eu já assisti esse episódio no pica-pau, cara – riu –, é muito engraçado. É aquele que a bruxa fala lá vamos nós porque perdeu a vassoura, não é? – Um cara com lábios inferiores avantajados demais e olhos grandes começou a rir, e perguntar. Só ouviram-se explodir gargalhadas, eu também ri bastante. – Ué, quê que foi? – Ele ainda perguntou, e depois riu.

- Treasure, that is what you are. Honey, you're my golden star. And if you can make my wish come true, if you let me treasure you... If you let me treasure oh oh ooooooohUma voz doce começou a cantar no meio das risadas, e foi cantando cada vez mais alto. A parte dos "OHs", todos cantaram em coro.

A voz era Bruno, e depois com todos juntos, ficou perfeito. Percebi que alguém gravava na outra ponta da roda, mas não era um dos cantores – You are my treasure, you are my treasure, you are my treasure, yeah you you you you are. – Continuaram todos juntos, foi a melhor parte da noite.

Com o tempo, o resto das pessoas se foram e sobraram só os integrantes da banda e algumas mulheres que eram aparentemente "amigas coloridas" ou namoradas deles. Já era quase meia-noite. Steven me mandara uma mensagem perguntando se estava tudo bem e que ele não poderia vir, mas no final da semana viria. Eu respondi que estava tudo bem, e que fiquei feliz por ele poder vir ao menos no fim de semana.

- Hey, vamos fazer um jogo? – James, perguntou. Sim, agora eu sei o nome de todos.

- Que jogo? – Perguntei, não querendo me intrometer, mas logo alguém perguntaria.

- Hum... Não sei. – Ele respondeu. Os rapazes tinham parado de beber um pouco, Bruno disse que a casa dele não é bar pra eles encherem totalmente a cara, só parcialmente. Então para não ficarem bêbados demais, eles pararam de beber álcool e bebiam apenas guaraná ou coca.

“É melhor você vir para casa, parece que o Stev está com febre.”

- Tenho que ir, rapazes. – Falei e eles olharam para mim. Cameron também se levantou, em sinal que também estava indo. – Meu cunhado está mal, tenho que ir mesmo.

- Não acredito, agora que íamos começar com um jogo? – Kam perguntou e cruzou os braços, fingindo estar emburrado. Dwayne deu-lhe um tapa na cabeça. Dei tchau a todos e fui andando até o portão, Phil – a propósito – me deu um abraço extremamente grande e apertado e antes de chegar até lá, Bruno correu até mim.

- Amanhã, que horas será a reunião? Eu já tenho umas ideias… - Ele pareceu entusiasmado.

- O horário que for melhor pra você, por mim qualquer um, mas preciso estar avisada.

- Hum... Às três? Pode ser? – Pensei por um momento, e às três estava bem.

- Pode, pode sim. Muito obrigada pela festa, senhor Bruno Mars. – Eu disse sorrindo, pois ele já havia dito para eu chamá-lo de Bruno.

- Não há de quê, senhorita Luna Sanders. – Deu um sorriso desafiador, eu apenas dei meia volta e saí.

Fui caminhando até meu carro pensando no que Stefan tinha, é claro que uma dor de cabeça ou outra é normal, mas minha mãe sempre diz que quando há febre há algo a mais. Dirigi o mais rápido que pude até em casa, estacionei o carro e peguei o elevador. Havia uma senhora que eu nunca havia visto, com umas sacolas estranhas, aliás, ela era estranha. Balancei a cabeça ao sair, para espantar os pensamentos sobre a senhora.

- Stefan, o que aconteceu? – Falei quando vi ele branco, mais branco que farinha. Me subiu um pânico pelo corpo todo. Lea saiu da cozinha com uma xícara, provavelmente chá, pensei.

- Eu falei que ele estava com febre só pra não te apavorar, ele também está com febre, mas parece um pouco pior. – Ela falou entregando a xícara. – Fiz um chá verde. Sua mãe disse que ajuda.

- Minha mãe? Ela ligou? – Perguntei.

- Não, ela disse isso faz tempo. – Explicou. – Ah, Stef... – Só agora eu percebi que ele estava com um balde, e depositando o que comeu na última semana dentro dele.

- Vamos pro hospital, agora. – Falei.

- Não, pode deixar que eu vou. Amanhã você tem reunião com o Bruno Mars e eu sei que um monte de coisa, deixa que eu levo ele. Pode dormir. – Lea falou, enquanto Stefan esbranquiçava mais, vomitando.

- Você sabe que eu não vou conseguir dormir com ele assim. – Apontei para Stefan. – Deixa que eu vou, vai dormir. – Ela negou com a cabeça.

- Vamos todos então. Vai se trocar enquanto eu tiro seu carro da garagem, depois leva ele. – Ela pegou as chaves do carro e saiu.

Falei para Stefan que já voltava e ele assentiu. Tirei meu vestido e coloquei uma calça, blusa, sapatilha e jaqueta. Voltei para sala e Stefan estava recostado no sofá, com os olhos fechados.

- Vamos? – Ele abriu os olhos.

- Claro. – Falou baixo, quase num cochicho.

Saímos em direção ao elevador, no momento em que estávamos descendo ele segurou no meu braço. Parecia nauseante aquilo para ele. Descemos e o carro estava lá na frente, entramos e Lea dirigiu direto para o hospital. Estava muito frio lá fora, uma brisa gelada balançou meus cabelos e fez Stefan bater os dentes, mesmo com uma jaqueta. Saber dirigir ela sabe, só não dirige. Fomos ao pronto socorro, que estava mais próximo que o hospital, e me sentei nas cadeiras de espera enquanto Lea conversava com a moça na recepção.

- Tem um médico de plantão, vamos vê-lo. – Ela avisou e eu assenti devagar, olhando Stefan.

Enquanto ele era levado para o consultório do plantonista, liguei para Steven e avisei o que estava acontecendo. Ele disse que já estava vindo, que apareceria de surpresa no meio da noite e por isso já tinha passado da metade do caminho. Disse que viria direto ao hospital para que eu possa ir descansar e ter ânimo para amanhã. Acho que nem com uma caixa de energético tenho ânimo pra amanhã, pensei.

Uns vinte minutos depois, Steven chegou. Eu já tinha cochilado na poltrona da sala de espera, e ele me acordou. Mostrei onde Stefan estava e ele foi até lá. Logo depois Lea voltou dizendo que Stev ficaria a partir de agora, Stefan passaria a noite tomando soro por estar desidratado demais. Ele pareceu mesmo desidratado demais, branco demais, vomitando tudo o que o preenchia.

 Fomos para casa e eu não consegui nem ver nada, ao chegar, deitei na cama e apaguei.

Eu definitivamente não estou disposta a ir trabalhar hoje. Pela janela entrava uma brisa fria, gélida. Me levantei e fui até o banheiro para escovar os dentes, depois de escovados, saí do quarto e fui para a cozinha. Tudo silencioso. Lea ainda deve estar dormindo, quando chegamos ontem já eram mais de duas horas da manhã. Olhei no relógio de parede e vi que eram nove e meia da manhã. De quinta eu entro às dez, então quer dizer que eu estou muito atrasada.

- Ah, que merda. – Xinguei enquanto corria para o banheiro.

Tomei um dos banhos mais rápidos da minha vida. Coloquei uma calça jeans, camiseta, jaqueta e sneakers. Corri para a cozinha e comi uma banana com aveia e mel, taquei tudo dentro de uma tigela e mandei pra dentro. Escovei os dentes novamente e saí.

No elevador estavam uma menininha e a mãe, o eletricista do prédio e um outro homem que eu acho que mora no terceiro andar também. A menininha tinha mais ou menos três anos, ou dois, então o elevador estava tomado por cheiro de criança. Tão bom. Era estranho como ficou tão frio de uma vez em Los Angeles, na semana passada o clima estava ameno, normal, mas nessa uma massa de ar frio veio com tudo. Olhei no relógio e eu tinha quinze minutos pra chegar na produtora, coisa que eu só conseguiria se voasse. E assim eu fiz. Voei.


- Você acha que ele vem pra casa hoje? – Perguntei.

- Ah sim, claro. E aí, acha que consegue voltar um pouco mais cedo? – Stev perguntou.

- Meu trabalho está quase pronto, tenho uma reunião daqui vinte minutos, e depois que acabar eu vou pra
casa. Sua mãe veio também?

- Não, ela estava enrolada com os trabalhos da comunidade e disse que sabia que eu cuidaria bem do Stef, então ela não viria. Sabe, ela nem pareceu tão preocupada quando eu liguei pra ela hoje mais cedo.

- Nossa, não? – Não se preocupar com o próprio filho já é demais, pode dar uma preferência para o outro até, mas quando um está no hospital deve-se mais amor. Pelo amor de Deus.

- Não, não pareceu. Mas você sabe, ela devia estar cansada e não conseguiu demonstrar que estava tão preocupada assim.

- Ah, claro…

- Amor, tenho que desligar porque o médico do Stef tá vindo, até mais tarde. – Ele avisou.

- Até mais.

- Te amo. – Ele desligou. E em seguida eu também.

Stefan está melhor, mas parece que pegou uma virose. Com esse tempo e o vento que tomei no ombro descoberto ontem, duvido muito que eu mesma não pegue uma gripe. 2h43, meu celular avisava. As reuniões são na sala de reuniões, ao lado da sala do Cameron. Eu estou morrendo de fome, pois não almoçara hoje. Tentei terminar tudo antes que desse a hora da reunião com o Mars, e consegui.

Fechei a última janela do computador e salvei o clipe. É de um grupo novo, Little Mix. A reunião com elas será amanhã, pra eu mostrar a elas o resultado. Têm uma música legal e tal, acho que não escolheram mal a carreira. Existem alguns cantores, que ficariam melhor como atendentes do Mc Donald’s.

- Ei, gata, o Bruno Mars já chegou. – Mark entrou falando. Somos amigos desde que eu comecei a estagiar aqui, mais de um ano. Ele não tem namorada, mas vive fazendo “limpas” nas baladas.

- Mas já? Faltam alguns minutos ainda, mas tudo bem. – Peguei o notebook e alguns papéis.

- Vou nessa reunião também, Cameron me mandou ir porque ele não confia muito no Bruno. – no Bruno?
Hã? – Vou ficar lá só observando e se precisar de alguma coisa, estarei lá.

- Bruno é o quê? Um delinquente? – Perguntei e ele riu.

- Acho que é pelo mesmo fator que você não me deixa muito tempo com a Lea. – Eu ri. Eu realmente não deixo ele sozinho com a Lea num ambiente fechado, ela acha ele lindo, e ele também, então nem sei o que pode dar. É claro que é brincadeira, mas sempre que ele vai lá em casa, os dois não ficam no mesmo cômodo sozinhos.

- Nesse caso, ele é um cara perigoso pelos seus tributos atrativos? – Perguntei e ele riu.

- Exatamente. – Ambos riram e saímos.

Fomos os dois para a sala de reuniões, mas Bruno não estava lá. Só Phil.

- Oi, sou o Mark. – Mark se apresentou.

- Ah, oi, Philip Lawrence. Mas pode me chamar de Phil. – Ele deu aquele sorriso simpático e singular, um sorriso “Philístico”.

- Oi, Phil. – Ele me abraçou brevemente.

- Oi, Luna. – Falou enquanto nos distanciávamos, me sentei ao seu lado, e Mark do meu outro lado.

- Ué, e cadê o Bruno? – Mark.

- Ah, ele. Ele… Ah sim, ele. Ai ai. – Phil riu – É uma história muito engraçada, vocês não vão nem acreditar
sabe… - Philip Lawrence estar-nos-ia enrolando?

- E cadê ele? – Eu perguntei.

- Ele? Ai, ele. – Phil desfaleceu os ombros e entortou os lábios.

- Aham, ele. – Concordei e Phil sorriu pouco à vontade. Onde será que estaria o Bruno?


terça-feira, 25 de março de 2014

Capítulo Três

“Luna, eu já cheguei. Peguei um taxi até a sua casa, você vai demorar muito?”

Era o que a mensagem do Stefan, eu estava abarrotada de trabalho. De uma hora para outra alguns clipes chegaram para a edição, está tudo bagunçado por aqui. Já são quase quatro horas e acho que hoje só vou embora às seis.

“Stef, pode subir que hoje a mulher que limpa a casa, Jude, está aí. Daqui um pouco mais de uma hora eu chego, se quiser eu peço para Lea ir te fazer companhia, vocês se dão bem, né? Enfim, fique à vontade.”
Mais cedo, um cantorzinho que é modinha chegou aqui fazendo a maior bagunça porque não gostou de como ficou o clipe, e mesmo assim foi lançado. Tivemos que explicar que não somos nós quem lançamos, então ele deveria ter ido ficar bravo com a produção dele, não conosco. Mas ele não entendeu, possivelmente a fama tirou alguns neurônios, e falou que iria nos processar. Quem fez o clipe foi a Penny, só tenho dó dela.

Fiquei terminando todas as coisas que chegaram de uma hora para a outra, e incrivelmente saí de lá antes das seis horas. Antes de ir para casa, passei no mercado e comprei algumas coisas para o jantar, e mais algumas coisas que estava precisando. Cheguei em casa e já eram seis horas.

- Ah, oi gente. – Falei após fechar a porta. Stefan e Lea pareciam desorientados sentados lado a lado no sofá. Ela arrumando o cabelo e ele a blusa.

- Hum… oi. – Ele falou sorrindo e Lea se levantou e foi em direção à cozinha. Eu a segui e coloquei as compras na mesa.

- Não me diga que…

- Ah, ele já tem dezessete anos. Já está grandinho, não é igual como nos vimos na última vez. Ele só tinha dezesseis. – Ela falou na maior cara-de-pau. Eu ri.

- Não acredito nisso. Mas okay, e aí, o que vocês fizeram no meu sofá? – Nunca se sabe o que essa louca pode fazer. Ela sorriu.

- Calma, calma, não fizemos nada disso o que você está pensando. E olha que o carinha tem pegada… Só nos beijamos. – Disse sorrindo – Se ele tiver puxado ao irmão, sorte a sua. – Completou e eu ri.

- Você não tem vergonha, mesmo né? – Ela riu – Vai jantar aqui? – Perguntei enquanto guardava as compras, ela veio me ajudar.

- Não tenho nada melhor pra fazer, então possivelmente.

Eu não tenho muito jeito na cozinha, mas me viro. Hoje vou fazer macarronada com almôndegas, não é uma coisa difícil e também não demora tanto, então era o mais indicado.

- Quer ajuda, Luna? - Stefan apareceu na cozinha.

- Hã? Não, obrigado. Pensando bem, você pode lavar a alface? - Ele assentiu e eu entreguei o pacote de alface.

Coloquei o macarrão no fogo enquanto Lea tagarelava sentada na mesa. De vez em quando Stefan falava algo engraçado que nos fazia gargalhar, Lea como sempre uma palhaça também, então estávamos só risadas. O jantar ficou ótimo, modéstia a parte, e a salada do Stefan também. Depois dele, eles lavaram e guardaram a louça devido o trabalho todo que já tive.

- Eu vou subir, tenho que pesquisar umas coisas pro clipe do Bruno Mars, e fazer mais alguns ajustes que dá pra fazer aqui em casa. Alguém tem algo a dizer? - Perguntei.

- Vou dormir no quarto de hóspedes, certo? Lea já me mostrou onde fica. - Ele sorriu de canto para ela, que subiu os cantos da boca num sorriso safado.

- Aham, vai. E por favor se comportem, tá? Não vou comentar com seu irmão, mas não quero ser madrinha de bebês tão cedo. - Falei e ele riu.

- Você não vai ser madrinha de ninguém porque eu tô indo pra minha casa, tenho que arrumá-la porque essa semana a empregada não vem. Nos vemos amanhã? - A pergunta não foi direcionada, mas pareceu ser para Stefan.

- Claro. Até amanhã. - Ela deu um beijo no canto de sua boca e acenou pra mim. Acenei de volta e só ouvi a porta batendo.

- Luna, você tá fazendo o clipe do Bruno Mars? - Ele perguntou enquanto eu pegava um copo d'água.

- Aham, estou. Por quê?

- Não, nada. É que, você sabe, o cara é maneiro e tal. - Eu resmunguei algo como "sei" ou "hum" e ele foi para seu quarto.

Fui para o meu também, já que ele nem me deu boa noite não vou fazer questão. Stefan é reservado, então deixa ele. Me sentei na cama e peguei o notebook, liguei o wi-fi, porque no prédio tem wi-fi, e fui para o Google.

Pesquisei sobre "Bruno Mars" primeiramente. Li algumas coisas sobre a carreira e vi seus clipes anteriores, na maioria deles eu ainda não trabalhava com o Cameron. E também nem tinha cargo suficiente para dirigir algo, eu era uma mera "ajudante". Acho que o que Cameron está fazendo, isso de me deixar praticamente no comando do próximo clipe, é como uma prova de confiança. É por isso que eu não posso falhar. Todo mundo da produtora sabe que ele tem uma amizade com o Bruno, e o admira muito, e pelo visto isso é mútuo. Se Bruno se decepcionasse, a culpa seria minha, e Cam não gostaria nada disso.

Eu estou animada, pode-se dizer. Eu geralmente trabalho com artistas "pequenos", aqueles que ainda não fazem ou fizeram tanto sucesso. Eu já conhecia o Bruno, quem não conhece o Bruno Mars? Mas parece que há um entusiasmo maior agora. Ele é famoso, estourou com Just The Way You Are, também com muitos outros. Alguns eu estava na faculdade, outros eu já estava trabalhando. Mas comecei realmente a "tomar o controle" das coisas da produtora no fim do ano passado, que foi quando fui promovida de ajudante para diretora de arte. Não me gabando, mas depois de mim só existem mais duas pessoas que podem mandar naquilo tudo. Que é o Cameron e o Mark, que por sinal é um ótimo amigo.

Coloquei uma playlist no computador com músicas do Mars, em algumas me surpreendi com o romantismo e outras com a safadeza. É claro que Bruno não é feio, é bacana, tem um sorriso impressionante e cabelos definitivamente charmosos. Mas é claro que eu não estou interessada nele, além de eu ter namorado, a última coisa que quero fazer no mundo é misturar trabalho com relacionamentos.

Pesquisei algumas atrizes latinas para o clipe, mas nenhuma parecia adequada. Além de que tudo tem que partir do gosto do Bruno, ele é quem sabe de como ele quer o clipe, o elenco, o espaço, tudo. Pensei em pegar seu número, eu precisava falar com ele sobre uma ideia que estava me fazendo cócegas por dentro. Mas isso poderia esperar.

Pesquisei as boates de Strip de Los Angeles e eram muitas, realmente todas distintas umas das outras. Talvez fosse melhor esperar pelo Bruno. É isso. Vou falar com ele na festa, pra levar algumas opções de tudo e minhas ideias organizadas. Eu estava pensando quando uma melodia me desconcentrou, era tipo "you are my treasure, you are my treasure, yeah you you you, you are". Eu sorri e, confesso, dei uma leve dançadinha. Fui dançando até o banheiro para escovar os dentes, escovei os dentes me remexendo, e fui desligar aquela música para poder dormir.

Melodia colante. É como eu chamo essa música. Treasure.

***

- Stef, você vai, né? Não me diga que eu vou ter que ficar sozinha lá. - Perguntei para ele, que estava deitado no sofá.

- Luna, tô morrendo de dor de cabeça. Meu irmão não falou que viria? – Ele já tinha reclamado da cabeça ontem, e mesmo com remédios ela não havia passado. Steven falou que se viesse, chegaria aqui lá pelas onze da noite. Pedi para ele vir, e ele disse que viria.

- Falou, mas ele só vai chegar onze horas ou mais. Lea achou alguma coisa com o pai, que nunca liga pra ela e resolveu aparecer, então o que me resta vai ser ir sozinha. – Me sentei no sofá com as mãos no rosto, desanimada.

- Se colocar as mãos no rosto, vai desmanchar a maquiagem. – Disse ele num tom terno – Você sabe que eu iria, se não fosse essa dor de cabeça medonha que estou, eu iria com você. Você está linda, vá e se divirta um pouco. – Ele sorriu e eu percebi que ele estava falando a verdade, eu não poderia ficar enfurnada dentro de casa só porque eu não teria companhia no trajeto até a festa. Lá provavelmente vai ter alguém, não é possível que eu fique totalmente sozinha.

- Ah, obrigada, Stef. – Eu sorri e ele me surpreendeu com um abraço, que eu retribuí sorrindo. Acho que esse menino está carente por causa da mãe. Eu não digo isso a ninguém, e nem costumo ficar pensando, mas a minha sogra sempre deu preferência ao Steven. Isso é evidente. Desde que começamos a namorar, e pelo visto desde sempre. Com a rejeição parcial da mãe, só lhe restou o pai, e depois que ele se foi, bem, o menino ficou sem chão. Eu e Stev estávamos namorando não fazia nenhum mês quando isso aconteceu, e Stefan chorou mais que qualquer pessoa de 16 anos que eu já vi chorar.

O vento lá fora estava congelante, uma espécie de neblina tomava o chão. Quando saí do elevador, passei pela recepção do prédio, e cheguei em direção à porta o vento soprou jogando meus cachos que estavam soltos sobre os ombros para trás. Eu estava com um vestido de um ombro só, o outro era coberto por uma manga comprida. E curto. Meus sapatos de salto alto que uso só de vez em quando, e quando não estão sendo utilizados pela minha vizinha/melhor amiga.

 A atmosfera estava estranha, parece meio mágico – pensei quando vi os grãos úmidos da neblina brilharem com as lanternas do carro iluminando-as.

Ontem alguém ligou para a produtora de manhã e me deixou o recado com o endereço de Bruno, explicando tudo. A casa dele nem é tão longe da minha, menos de vinte minutos e eu já estava em frente daquele palácio. Se eu achava que já tinha visto casas grandes, essa me surpreendeu. Estacionei o carro atrás de um carro antigo, como aqueles das figurinhas vintages que se veem por aí. Peguei minha bolsa de mão e saí do carro. Parecia que ali estava ainda mais gélido.

Fui caminhando pela calçada cheia de ladrilhos de pedra que brilhavam sob a luz da lua. E que lua, pensei. Ela estava linda hoje, digna de uma foto, cheia como um prato de sopa. Os portões cinza-escuro da casa davam um ar de privacidade exagerada, mas um deles estava aberto. E quanto mais fui me aproximando, pude perceber que alguém estava ali. Caminhei com cuidado para o meu salto-agulha não se enfurnar dentro de uma junta de duas pedras, e eu não passar um mico no meio da rua e na frente da casa do Bruno Mars. Mas felizmente, eu cheguei otimamente bem até o portão.

O cara de óculos grandes e sorriso simpático me esperava ali.

- Oi, Luna. – Me cumprimentou com um beijo no rosto.

- Oi, Philip. – Suspirei discretamente aliviada por me lembrar de seu nome.

- Phil, por favor. – Sorriu – Vem, entra. – Colocou sua mão direita no meu ombro esquerdo, que estava gelado por ser o ombro descoberto.

Passamos por uma garagem iluminada pela luz branca no teto, depois saímos ao ar livre num jardim enorme. A alguns metros a frente estava uma piscina, haviam plantas penduradas nas paredes e muita, mas muita gente.

- Tanta gente assim? Ele não disse que era alguma coisa menor, só pra comemorar o início da produção do clipe? – Perguntei baixo.

- Tanta? Luna, você não deve estar acostumada com festas de famosos. Aqui está realmente pequeno, não tem nada comparado à uma festa grande mesmo. Quando Bruno quer fazer festa grande, metade de Los Angeles cabe dentro disso aqui. – Ele riu, eu sorri.

Fomos caminhando até algumas cadeiras que haviam na área coberta por ali, na parede da área havia uma porta de vidro que provavelmente é a parede do meu quarto, só que de vidro. De onde eu estava sentada, dava para ver um jogo de cozinha totalmente branco e em algumas partes, mármore branco. Eu nunca havia visto mármore branco. Na mesa de centro, estavam algumas lembrancinhas do Havaí, como aquelas que compramos nas viagens dos caras que ficam vendendo em calçadas, os camelôs. 

Mal percebi e Bruno estava ao meu lado, com dois copos de whisky na mão.

- Havaí. Já foi lá? – Olhei pra ele com os olhos arregalados em parte pelo susto, ele sorriu.

- Hã? – Isso, pareça mais ainda uma retardada – Ah, não. Nunca fui. Dizem que lá é lindo. – Ele assentiu e me ofereceu o outro copo em sua mão, eu aceitei.

- E é mesmo... Aliás, já viu o Ryan hoje? Ele estava te procurando. Você trouxe sua amiga?


- Não, para as duas perguntas. Minha amiga foi jantar com o pai que não via a muito tempo, e meu cunhado que disse que viria comigo, estava com uma dor de cabeça horrível e não deu pra ele vir. – Ele coçou a cabeça.

- Cunhado?

- É, o irmão do meu namorado... – Gesticulei com as mãos, girando-as no ar.

- Você tem namorado? – Perguntou olhando as próprias mãos.

- É, tenho. E a propósito, eu queria falar com você sobre a reunião de amanhã. – Comecei, eu tentaria falar pra ele minhas ideias.

- Hum, pode falar.

- Sabe, é que eu estava pensando que...

- Bruno, amorzinho, a bebida acabou naquela garrafa que você nos deu. Onde tem mais? Venha buscar. – Uma moça loira, alta, com pouca roupa e sorriso indecente o abraçou por trás.

- Judith, eu estava conversando com a Luana, mas tudo bem. Vamos. – Se desvencilhou dela – Vou avisar ao Ryan que você está aqui, pode deixar. – Disse isso e saiu sendo arrastado pela Judith.

Alguns minutos depois, Ryan chegou.

- Oi. – Disse sentando-se ao meu lado.

- Oi, Ryan.

- Quer beber alguma coisa? Comer alguma coisa? Dar uma volta pela casa do Bruno? – Ele pareceu um garçom, me segurei para não sorrir – Acho que daqui a pouco o Cam chega, ele disse que daqui da festa já vai viajar. Sabe, com a filha. – Explicou e eu assenti.

- Comer algo não seria má ideia. – Disse e ele sorriu.

- Então vamos, ali no balcão de dentro tem uma tábua de frios. – Adentramos na cozinha enorme e cheia de mármore e madeira brancos. Ele me ofereceu uma tábua com queijos estrangeiros, alguns tipos de peito de peru diferentes e bacon. Achei estranho ter bacon numa tábua de frios, mas não é meu papel achar nada estranho.

Foi quando nos encostamos no balcão alto e duro de pedra, foi que pude observar sua roupa e tudo, e aparentemente ele também. Ele estava com uma calça jeans larga, e tênis All-Star nos pés. E com uma regata um tanto quanto ousada, que continha os dizeres "SEX, DRUGS AND RAP". E o cabelo em trancinhas, foi o que achei mais exótico. Mas gostei.

- Você está linda. – Ele disse sorrindo.

- Ah, obrigado. Você também não está nada mal. – Sorrimos novamente e ficou um clima desconfortável.


Depois de um tempo, fomos para fora. Havia uma rodinha em que só haviam homens, todos juntos, e cantavam. Cantavam alguma música antiga, Elvis talvez, ou então Beatles, não sei. Só cantavam. Pareciam um coral de igreja que se via em filmes, de vez em quando um ou outro desafinava devido a bebida. Mas logo voltavam a cantar como anjos numa capela.

- Rapazes, temos uma dama aqui. Se comportem. – Ryan disse e eles riram.

- Mas quem é a bela donzela? – Um deles perguntou.

- Luna Sanders. A bela donzela que comanda tudo ao lado do Duddy e é a bela donzela quem vai co-produzir o clipe de Gorilla, junto com ele e Bruno. A donzela que manja das edições enquanto tudo o que vocês fazem é cantar e beber. – Houve um coro de "uuuuuuuuh", como se isso fosse uma tirada para o cara que perguntou.


- Obrigada pela apresentação, Ryan. – Disse um pouco mais baixo, não aos quatro ventos, como o índio presente ao meu lado. Eles todos abriram um sorriso pra mim, ao mesmo tempo, depois se olharam e caíram na risada. Foi inevitável não rir.


Capítulo Dois

- Temos que decidir a modelo agora. De que tipo? – Phil já havia dado a ideia de a modelo fazer pole dance e todos concordamos, o roteiro estava quase pronto.

- Uma morenona, latina. Elas são as melhores. – Ryan falou piscando devagar, como se imaginando. Só aí que eu percebi que a Luna era uma morena desse tipo, não parecia latina, era branca demais para se latina. Mas tinha um corpo lindo e um rosto mais ainda, lábios carnudos… Vai saber se ela não tem descendência mexicana? Ei, é isso!

- Uma mexicana! – Falei. Ou alguma que pareça uma mexicana, que seja.

- Boa, cara, uma mexicana. Existe alguma atriz mexicana que queira dar uns beijos técnicos dentro de um carro com o Bruno Mars? – Phil perguntou para Luna.

- Vou procurar. – Ela declarou e me olhou de relance, olhos tão profundos e bonitos.

- São quase cinco horas, tenho que ir. Vocês também não tinham um compromisso? – Cameron perguntou para mim, e realmente eu tinha um jantar hoje. E nem era aqui em Los Angeles.

- Nossa, é verdade. Temos que ir, Bruno. – Ryan concordou.

- Temos que marcar de novo. Luna é quem vai ajudar vocês em tudo, vou dirigir no geral, mas ela é quem edita e vê os detalhes. Vocês se lembram dela no clipe de Locked Out Of Heaven? – Cam disse.

- Nossa, agora que você disse, eu me lembro. Ela não tinha ficado com o Ryan? – Phil disse e depois de ver os olhos verdes esbugalhados dela, colocou a mão na boca. – Quer dizer, eu me lembro dela.

- Ela estava lá, eu lembro. – Eu disse. Ela ajudou nos detalhes. Mas ela não parecia tão importante como ela está parecendo, parece que antes era assistente e agora é chefe.

LUANA’S POV

Foi por isso que eu pensei que conhecia Ryan de algum lugar, fiquei com ele no ano passado. Que vergonha que passei quando Philip falou isso na frente de todos ali. Quase arrumamos tudo, o roteiro do clipe estava semi-pronto.

- Vamos indo. Temos um jantar hoje. – Philip disse.

- Que dia vamos marcar a próxima reunião? – Perguntei, eles olharam para mim.
- Depende da agenda do Bruno, e aí, Brunão? – Cameron perguntou para Bruno.

- Hoje é terça-feira? Hum… Acho que sexta.

- Eu vou viajar, algum problema se a reunião for só com a Luana? É ela mesmo quem vai editar e produzir. – Cameron disse, ele não tinha me avisado sobre isso.

- Ah não, imagina. Sexta-feira estarei aqui  para a reunião com a Luana. – Bruno disse sorrindo. Cameron se despediu, os meninos também, e eu saí da sala também.

Fui para a minha sala. Ainda tinha que terminar de ajustar o clipe de uma cantora, é uma dessas de começo de carreira, e é bem simpática, tivemos uma reunião na quinta-feira passada. Sentei na cadeira e comecei a trabalhar.

Alguns minutos depois, meu telefone toca.

- Luna, aquele moço que estava na reunião com o Bruno Mars quer falar com você. Ele tá esperando ali no sofá da sala na frente do escritório da Penny. – Lise falou.

- Comigo? Tá bom, fala que eu já tô indo. – Ela desligou.

Pensei em 1) quem seria o moço da reunião; 2) o que ele quer comigo; 3) se eles tinham compromisso, por que ele estava aqui? Salvei o clipe no computador e caminhei para fora, hoje Mark faltou do trabalho. Eu nem tinha percebido isso, amanhã pergunto pra ele o porquê. Fui andando e lá estava o cara musculoso de cabelo comprido sentado no sofá.

- Oi, você quer falar comigo? – Cheguei, eu não tinha muito tempo. Ainda tinha que terminar o clipe e estava quase dando meu horário.

- Ah sim, queria. Você sabe que, desde o ano passado, eu me lembrei de você hoje. E… Vai ter uma festa na quinta-feira, eu queria saber se você pode ir. É claro, se você quiser. – Me deu vontade de rir, eu estava sendo convidada para uma festa. Não foi isso que me deu vontade de rir, mas sim sua expressão.

- Uma festa? – Ele assentiu – Mas, posso levar meu namorado? – Seu rosto ficou com uma expressão meio derrotada.

- Ah, seu namorado? Claro. – Ele foi meio que obrigado a concordar – Cameron também vai, Bruno resolveu fazer uma festa em comemoração ao clipe de Gorilla. Ele convidou algumas pessoas, pra famoso qualquer motivo é motivo de festa, sabe? – Assenti – Então eu resolvi te convidar também, pode levar alguma amiga se quiser.

- Ah, eu tenho uma amiga que adoraria ir. Okay, eu vou. Eu geralmente não vou em festas no meio de semana, mas já que também é em comemoração a Gorilla. Eu vou sim. – Ele sorriu, acho que por educação.

- Até quinta. – Ele falou e saiu.

Dei um breve sorriso e voltei ao meu escritório.
.
Abri a porta de casa e entrei, tranquei-a de novo e joguei minhas coisas sobre o sofá. Eu estava exausta, deram algumas complicações no clipe e tive que ficar lá até quase oito da noite. Fome, sono, cansaço… Tudo isso eu sentia. Caminhei até meu quarto enquanto tirava os sapatos, coloquei-os dentro do guarda-roupa e comecei a me despir. Entrei no banheiro e adentrei a água morna do chuveiro, como isso é relaxante! Meu cabelo estava preso com uma presilha, e até fechei os olhos ali. Me ensaboei, me enxaguei, me enrolei na toalha e saí. O dia todo esteve nublado, e agora uma leve garoa banhava minha janela. Coloquei um pijama comprido, eu estava com a barriga parecendo um alçapão. Um buraco sem fundo precisando  ser preenchido. Pensei em como isso foi idiota, porque se o buraco não tem fundo, ele não pode ser preenchido. Balancei a cabeça tentando parar de pensar em buracos, e sim em comida. Abri a geladeira e não havia muitas opções, anotei num bloquinho na geladeira que precisava ir ao mercado. Acabei por pegar um pacotinho de sushi, precisavam ser colocados no micro-ondas para voltarem ao normal, pois pareciam pedras. Coloquei eles lá e fui me sentar no sofá. Peguei o celular e disquei o número do Stev, só me lembrei agora que eu tinha falado de levar meu namorado na festa antes de consultá-lo. Enquanto chamava, liguei a TV em algum canal qualquer e estava na MTV, tocando uma música lenta e melancólica.

- Alô? – Ele atendeu.

- Oi, Stev.

- Ah, oi, linda. Tudo bem?

- Aham, tudo. Hum… Você vai estar aqui na quinta-feira?

- Eu não tinha programado de ir aí na quinta, não sei. Por quê?

- É que me convidaram para ir a uma festa e eu falei que levaria meu namorado, você tem alguma coisa na quinta? É uma festa de um cantor, você deve conhecer, o Bruno Mars. Ele está fazendo o clipe comigo e com o Cam e ele quis dar uma festa em comemoração, você sabe, eles gostam de jogar dinheiro fora. – Ele riu. Expliquei tudo na esperança de ele dizer que iria comigo.

- Acho que consigo, se não marcarem uma reunião do nada. Stefan vai ir para aí amanhã, e acho que você terá que levá-lo na festa também. Se for incômodo no seu trabalho, pode deixar que…

-  Não, não, incômodo nenhum. Gosto dele, e acho que a Lea também vai querer ir, então vamos todos nós. Vê aí se você consegue, okay?

- Claro, meu amor. Sabe, já estou com saudades.

- Eu também. – Não tanta assim, porque não fazia nem vinte e quatro horas que ele saíra daqui, mas de certa forma…

- Queria morar aí, você sabe, mas senão fosse eu, mamãe estaria desolada. Coitada. Ela é uma santa, e meu irmão fica com essas mal-criações com ela. Ele não superou a morte do meu pai, acho que ficar uma semana fora vai dar uma ajuda a ele. – Ele não tinha falado de semanas aqui em casa, mas não fará muita diferença.

- Eu sei, eu sei, sua mãe precisa de você e você a ajuda. Estou muito orgulhosa de você. – Ouvi o barulho de seu corpo pulando na cama.

- Obrigado, amor, bem, agora vou dormir.

- Vou comer e logo dormir também, hoje o dia foi cansativo. – Ele bocejou do outro lado da linha. Eu também.

- Boa noite, princesa.

- Boa noite.

Às vezes eu sinto como se alguma coisa estivesse errada. Mas não, está perfeito. E é isso o que parece errado: a perfeição. Ele não tem nenhum defeito, nosso relacionamento não tem nenhum defeito, ele é apenas normal. Somos um casal normal que mora separado e quando se vê, mata a saudade. Não saímos muito, mas ele sempre me manda buquês e presentes. Parece que antes de nos conhecermos, ele planejou tudo. Parece que ele utilizou as contas da empresa de contabilidade que trabalha e calculou o nosso relacionamento, tudo o que ele precisaria fazer para nada nunca sair do controle. Para tudo sempre estar em linha reta, sem interrupções ou interveio.

Fui para a cozinha e peguei os sushis do micro-ondas, peguei um garfo e fui para a sala. Comi enquanto assistia ao jornal, vendo as notícias. A previsão do tempo revelara uma semana com o tempo nublado e chuvoso, uma massa de ar frio estava se aproximando de Los Angeles. Lea iria ficar sem nadar a semana toda. Aliás, preciso falar pra ela sobre a festa. Com certeza ela irá, não tem nada para fazer provavelmente, só se achar algum par de calças.

Coloquei o prato na pia, lavei a louça e guardei. Uma mulher vem três dias por semana para limpar a casa, se chama Jude, ela veio ontem e virá amanhã. Mas nos dias em que ela não vem, eu que lavo a louça e arrumo o que estiver desarrumado. Fui me “arrastando “ até meu quarto, deitei na cama e apaguei. Acordei antes do despertador, a janela estava meia aberta e eu estava com frio. Olhei no relógio e ainda faltava alguns minutos pra dar a minha hora de levantar, então me afundei no travesseiro de novo.

- ACORDAAAAAAAA! – Acordei com um corpo em cima do meu, Lea, tão cedo.

- Posso saber que pouca vergonha é essa na minha cama? – Me levantei e olhei no relógio, havia se passado quarenta minutos desde a primeira vez que acordei.

- Vim te acordar porque vamos fazer compras antes de você ir trabalhar, vamos ao shopping! – Disse sorrindo. Acho que o lugar preferido dela, depois da minha casa, é o shopping.

- E a propósito, você vai numa festa na quinta-feira à noite. O Stefan chega hoje e eu tenho que ver se ele também vai querer ir, convidei o Stev.

- Festa de quê? – Eu estava escovando os dentes, ela sentada em minha cama.

- Do Bruno Mars, em comemoração ao novo clipe dele que está cinco por cento pronto. – Ela arregalou os olhos.

- Do Bruno Mars? Do cantor Bruno Mars? Aquele que tem a música da granada e dos macaquinhos? E aquela outra do fora do paraíso? Ele mesmo? – Ela estava a ponto de virar fogos de artifício e sair pelo céu.

- Aham, ele mesmo. Agora sai daqui, porque se formos mesmo ao shopping, não podemos demorar. E eu vou me trocar. Chispa. – Ela mostrou-me a língua e saiu.

Coloquei uma calça jeans, uma blusa, minha jaqueta de couro e meus saltos. Passei apenas um delineador e batom, e saí. Ela já estava na sala com uma blusa e uma saia longa, aquela vaca fica linda de qualquer jeito.


- Vamos? – Sorriu. E fomos.